Linguagem em uso
José Luiz Fiorin
Temos um conhecimento inato sobre o sistema
da língua. Entretanto não é suficiente para entender certos fatos linguísticos
utilizados na situação concreta da fala, existem situações que necessitam de um
entendimento maior, do ponto de vista dos valores semântico das palavras.
“No
sistema linguístico, temos oposições fônicas e semânticas e regras
combinatórias dos elementos lingüísticos. No entanto, nem as oposições
semânticas, nem as regras de combinação conseguem explicar alguns fatos de
situações da fala. Observando-se esses fatos, verificou-se que era preciso
estudar o uso da linguagem. Esse é o objeto da Pragmática. Assim, a Pragmatica
é a ciência do uso lingüístico, estuda as condições que governam a utilização
da linguagem, a prática lingüística... A pragmática não confere à língua uma
posição central nos estudos linguisticos, não a vê isolada da utilização da
linguagem.” (p.166)
Nos estudos da pragmática o filosofo John
Austin de que linguagem não tem uma função descritiva mas uma função de agir,
ao falar o homem realiza atos e já Paul Grice mostra que a linguagem natural
comunica mais do que aquilo que se significa num enunciado, pois, quando se
fala, comunica-se também conteúdos implícitos.
A pragmática estuda a relação entre a
estrutura da linguagem e seu uso. Pois na escrita comunicamos é possível
comunicar-se muito mais do que as palavras significam.
Segundo Moeschler, existem três tipos de
fatos linguísticos que exigem a introdução de uma dimensão pragmática nos
estudos lingüísticos:
·
Enunciação: A enunciação é o ato de produzir enunciados, que
são realizações linguisticas concretas, há certos fatos linguisticos, que só
são entendidos em função do ato de enunciar, assim são:
- Os dêiticos (para
entende-los é preciso conhecer a situação de uso);
-Enunciados
performativos (são os que realizam a ação que eles nomeiam);
-Uso de conectores
(muitas vezes conectam os atos enunciativos ou explica-os) ;
-Certas negações (a
negação não incide sobre a proposição negada, mas sobre sua possibilidade de
afirmação);
-Advérbios de
enunciação (os advérbios não modificam o verbo, mas qualificam o próprio ato de
dizer);
·
Inferência: Certos enunciados têm a propriedade de implicar
outros, implicações que derivam do próprio enunciado e, portanto, não exigem,
para que elas sejam feitas, informações retiradas do contexto, da situação de
comunicação.
·
Instrução: A Pragmática concebe que as chamadas palavras do
discurso, cuja função varia de acordo com o contexto linguístico em que se
acham colocadas, significam porque há uma instrução sobre a maneira de
interpretá-las.
A Pragmática deve mostrar como fazem se
inferências necessárias para chegar ao sentido dos enunciados.
Há duas distinções fundamentais em
Pragmática:
Frase é um fato linguístico caracterizado por
uma estrutura sintática e uma significação calculada com base na significação
das palavras que a compõe, enquanto enunciado
é uma frase a que se acrescem as informações retiradas da situação em que é
enunciada, em que é produzida. A mesma frase pode estar vinculada a diferentes
enunciados.
A significação é o produto das indicações
linguísticas dos elementos componentes da frase. O sentido no entanto, é a significação da frase acrescida da
indicações contextuais e situacionais.
Existem duas
correntes na Pragmática, uma pensa que a Pragmática, por estudar fatos de fala,
está radicalmente separada da semântica, outra integra a Pragmática e a
semântica, cada uma estudando aspectos diferentes do sentido.
A Pragmática tem
início quando Austin começa a desenvolver sua teoria dos atos de fala.
“Austin vai mostrar que a Linguística se
deixava levar por uma ilusão descritiva, pois é preciso distinguir dois tipos de
afrimações; as que são descrições de estados de coisa, a que ele vai chamar
constativas e as que não são descrições de estados de coisa.São essas que lhe
interessam. Toma, então, certos enunciados na forma afirmativa, na primeira
pessoa do singular do presente do indicativo da voz ativa com as seguintes
características a) não descrevem nada e, por conseguinte, não são nem
verdadeiros nem falsos;b) correspondem,quando são realizadas, à execução de uma
ação. A essas afirmações vai chamar performativas.” (p.170)
Os performativos
devem ser enunciados em circunstancias adequadas, para esse sucesso do
performativo existem algumas condições que Austin traz:
·
A enunciação de certas palavras em determinadas
circunstâncias têm, por convenção, um determinado efeito;
·
A enunciação deve ser corretamente pelos participantes. O
uso da fórmula incorreta torna nulo o performativo;
·
A enunciação deve ser realizada integralmente pelos
participantes;
Os performativos
indicados por verbos só existem na primeira pessoa do singular do presente do
indicativo da voz ativa na forma afirmativa. Nas outras pessoas nos outros
tempos, nos outros modos, não haveria performativos, mas sim constativos. Existem
performativos sem que apareçam no enunciado palavras relacionadas ao ato a ser
executado e, ao mesmo tempo, podem estar presentes no enunciado palavras
correspondentes.
Um enunciado será
performativo quando puder transformar-se em outro enunciado que tenha um verbo
performativo na primeira pessoa do singular do presente do indicativo da voz
ativa que são performativos explícitos. Os performativos que não estão nessa
forma são chamados de implícitos.
Para eliminar a
ambiguidade dos performativos, temos que levar em conta a situação de
enunciação, o modo verbal a entonação etc.
Quando se diz algo
se realizam-se três atos: O ato locucionário (ou locucional); o ato
ilocucionário( ou ilocucional) e o perlocucionário ( ou perlocucional). O ato
locucionário é o que se realiza enunciando uma frase, é o ato lingustico de
dizer. O ilocucionário é o que se realiza na linguagem. O perlocucionário é o
que se realiza pela linguagem. Há mais um ato o perlocucional que é um efeito
eventual dos atos locucional e ilocucional.
Estar marcado na
linguagem significa que o ato ilocucionário pode ser explicitado pela fórmula
perfomativa correspondente. A existência de marcadores ilocucionais e
proposicionais permite explicar fenômenos lingüísticos.
Muitos os atos
ilocutórios são expressos indiretamente. São os chamados atos de fala
indiretos, os falantes uitilzam os fatos indiretos para minimizar a força de
ordem. Os atos da fala indireto produziu toda uma corrente de estudo dos atos
de fala denominados interacionista. Para a teoria clássica, os fatos de fala
são universais e pensa atos de linguagem de maneira isolada; enquanto para a
teoria interacionista, variam de cultura para cultura e os vê como um
encadeamento de atos.
Dizer é fazer, isso
significa que os atos de linguagem têm um efeito muito grande nas relações
interpessoais, o que abriu um novo campo para a Linguistica, o estudo da
polidez lingüística.
A polidez
lingüística tem por feito diminuir is feitos negativos dos atos ameaçadores da
face, adoçá-los. É para isso que recorremos aos atos de fala indiretos, alem
dos que minimizam existe a polidez que valoriza os atos da fala. O excesso, a
falta, os limites entre o que percebido como valorizador ou ameaçador, tudo isso
é cultural.
Muitos estudiosos
da Pragmática, ela é governada por um principio de cooperação, que exige que
casa enunciado tenha um objetivo ou uma finalidade.
A contribuição de
Grice são a noção de implicatura e o estabelecimento do principio geral da
comunicação, o da cooperação. Grice distingue dois tipos de implicaturas: as
desencadeadas por uma expressão lingusitica, as implicaturas convencionais, e
as provocadas por princípios gerais ligados à comunicação, as implicaturas
conversacionais. A distinção entre implicaturas convencionais e conversacionais
parece bastante clara: aquela é provocada por uma expressão lingüística e esta
é suscitada pelo contexto. Existe também a distinção entre implicaturas
conversacionais generalizadas e implicaturas conversacionais particulares,uma
desencadeada também por elementos linguisticos e outra apenas pelo contexto.
“ A implicatura convencional é provocada apenas por um
elemento linguistico, ela não precisa de elementos contextuais para ser feita,
enquanto a implicatura conversacional, seja ela generalizada ou particular,
apela sempre para as noções de princípio de cooperação e máximas
conversacionais... Para Grice, o princípio da cooperação é o princípio geral
que rege a comunicação. Por ele, o falante leva em conta sempre, em suas
intervenções, o desenrolar da conversa e a direção que ela toma. Grice formula da seguinte
maneira esse princípio: Que sua contribuição à conversação seja, no momento em
que ocorre, tal como queira o objetivo ou a direção aceita da torça verbal em
que você está engajado. Esse princípio é explicitado por quatro categorias gerais-
quantidade das informações dadas, a de sua verdade, a de sua pertinência e a da
maneira como são formuladas – que constituem as máximas conversacionais” (p.177)”
As máximas
conversacionias não são um corpo de princípios a ser seguido na comunicação,
mas uma teoria da interpretação dos enunciados. O texto traz as explicações
sobre as máximas, suas explorações e suas violações.
Todas essas máximas
procuram mostrar como o falante, na troca verbal, resolve o problema do que
deve dizer e do que não deve dizer, conforme a situação de enunciação.
Os conteúdos transmitidos
pelos atos de fala podem ser explícitos e implícitos. Estes são as inferências
e dividem-se em pressupostos e subentendidos.
Os pressupostos são
tidos como verdades criadas pelo enunciador. Estes pressupostos possuem alguns
principais marcadores linguísticos como:
- Os adjetivos ou
palavras similares;
- Verbos que
indicam permanência ou mudança de estado;
- Verbos que
revelam um ponto de vista a respeito do que é expresso por seu complemento;
- Certos advérbios;
- As orações
adjetivas;
- Certas conjunções;
Os subtendidos são
informações veiculadas por um dado enunciado, cuja atualização depende da
situação de comunicação.
A diferença entre pressuposto e um
subentendido é que o pressuposto pode ser contestado, mas é formulado para não
ser, já o subentendido é construído, para o falante, caso seja interpelado,
possa, apegando-se ao sentido literal das palavras. Existem dois tipos de subentendidos
a insinuação e alusão.
O texto trás no geral alguns assuntos
tratados pela pragmática: Os atos de fala, as máximas que regem a conversação,
os conteúdos implícitos veiculados pelos atos de fala, entretanto a pragmática tem
vários outros assuntos a serem tratados.